A fisioterapia deve ser iniciada logo após uma lesão do tornozelo, devendo ser realizada todos os dias e a duração do programa de tratamento irá depender da gravidade da lesão e da sua evolução.
Não obstante a utilização de correntes elétricas analgésicas para diminuição da dor, a fisioterapia precoce tem um papel fundamental na diminuição do edema (inchaço) do pé e tornozelo e também no retomar dos movimentos da articulação, sempre adequados a cada caso, tendo como o objetivo a aceleração da sua recuperação.
Os exercícios de reabilitação podem e devem igualmente ser realizados em meio aquático, já que a realização de movimentos na água vai também aumentar a drenagem do edema e a vantagem da diminuição do peso corporal pela imersão na água vai, por exemplo, permitir que se caminhe mais rapidamente com apoio total no pé/tornozelo atingidos (dentro de água).
Mal a dor e o edema comecem a diminuir, com a ajuda dos diversos tipos de massagem, o fisioterapeuta vai o quanto antes tentar que o tornozelo volte progressivamente a efetuar os seus movimentos normais, utilizando variadas técnicas manuais/especiais. É importante ter em atenção que a recuperação do movimento que originou a entorse (normalmente a inversão) deverá ser realizada mais tardiamente e que se deve insistir tanto quanto possível no aumento do movimento de dorsiflexão (puxar o pé para cima).
Assim que a dor permita, devem-se iniciar exercícios de estimulação da propriocetividade (consciência da posição) do pé/tornozelo e melhoria do equilíbrio, de acordo com a gravidade da entorse, e depois deve-se aumentar progressivamente a sua dificuldade, isto é, ir diminuindo aos poucos as “ajudas” – por exemplo passar de exercícios na posição de sentado para a posição de pé, de bipodálicos (apoio nos 2 pés) para unipodálicos (apoio só num pé) e de superfícies mais estáveis para as mais instáveis (como o bosu). A intenção é ir habituando novamente o pé/ tornozelo às instabilidades normais dos gestos do dia-a-dia e da profissão e/ou esporte.
Além da reeducação do movimento do pé/tornozelo, deve-se potenciar todo o processo de reabilitação de uma entorse do tornozelo com outros estímulos sensório-motores e também cognitivos, como por exemplo realizar os exercícios atrás referidos com e sem o auxílio da visão, executar outra tarefa motora ao mesmo tempo (equilibrar um bastão com uma mão) ou efetuar simultaneamente uma tarefa cognitiva simples (fazer contas matemáticas “de cabeça”). Esta estimulação tão variada vai originar processamentos múltiplos e uma consequente aprendizagem mais eficaz, já que tira partido da neuroplasticidade (capacidade de adaptação do sistema nervoso) – o cérebro também assume um papel fundamental na reabilitação das lesões musculo-esqueléticas.
Os protocolos clássicos de reabilitação de cada tipo de entorse do tornozelo são muito importantes como guias globais do tratamento, mas é essencial que se vá avaliando a evolução de cada caso e, se necessário, se façam adaptações ao programa que estava instituído – deve-se por exemplo atrasar o início de um exercício “mais difícil” se o exercício semelhante “mais fácil” não estiver a ser corretamente efetuado ou originar dor relevante, assim como se pode antecipar um pouco o início de um movimento de maior instabilidade se não existir dor ou défice importante de estabilidade da articulação.
Fortalecimento dos músculos
Após uma entorse do tornozelo é muito importante que no programa de fisioterapia / reabilitação se restabeleça também o equilíbrio e a eficiência dos músculos da articulação, isto é, tem que se fortalecer os músculos que ficaram atingidos e também tem que se treinar as suas respostas automáticas aos movimentos excessivos da articulação, para tentar evitar novas entorses.
Nos exercícios de reforço muscular após uma entorse deve-se insistir no trabalho dos músculos intrínsecos do pé, nos dorsiflexores e, na maior parte das vezes, no trabalho dos músculos peroneais (que estão na “parte de fora” do pé/tornozelo/perna), já que são estes os músculos que mais frequentemente ficam lesionados (na entorse em inversão).
Nesta fase da reabilitação utilizam-se diversos tipos de exercícios, por exemplo estáticos ou dinâmicos, sem ou com a ajuda de resistências e ainda com a intervenção direta do Fisioterapeuta ou só com a sua supervisão. O reforço muscular é também associado e complementado com a reeducação da propriocetividade, para que a resposta muscular protetora seja o mais eficiente possível.
É também importante que se ensinem alguns exercícios simples adequados a serem realizados em casa, não só para ajudar a recuperação, mas também para envolver mais a própria pessoa no seu processo de reabilitação.
Entorses de tornozelo no esportista
A entorse do tornozelo é a lesão mais frequente do desporto em geral e a sua frequência aumenta em modalidades como o basquetebol, voleibol e futebol, entre outras. As causas / fatores de risco são variados, sendo de salientar:
- antecedente de entorse do tornozelo (já ter tido uma entorse antes);
- prática de desportos com contacto, impulsão/salto e corrida;
- calçado inadequado;
- hiperlaxidez ligamentar generalizada;
- dismetria dos membros inferiores (um mais curto que o outro);
- défice de dorsiflexão do pé;
- défice de força muscular e/ou de velocidade de reação dos músculos peroneais;
- défice propriocetivo e de controlo postural;
- fadiga.
Nos desportistas tem que se ter sempre em atenção que o desejo de uma recuperação mais rápida não pode impedir a reabilitação completa da entorse do tornozelo, pois o retorno à atividade desportiva deve ser sempre realizado da forma mais segura possível.
Para quem pratica desporto, sobretudo de competição, é muito importante que no processo de reabilitação de uma entorse do tornozelo não se descure o treino das capacidades físicas que podem ser também trabalhadas, como por exemplo a resistência aeróbica – deve então ser mantido ou até aumentado o treino cardiovascular, com as devidas adaptações. Devem-se também manter os exercícios de reforço muscular possíveis, incluindo do membro inferior do lado da entorse (se necessário realizam-se os exercícios em descarga, isto é, sem o peso corporal), não esquecendo o reforço de músculos como os abdominais e os nadegueiros – que são depois fundamentais na estabilização corporal. Pode e deve também aproveitar-se esta fase para aumentar os exercícios de flexibilidade, com especial ênfase na cadeia posterior dos membros inferiores (músculos/estruturas da parte de trás da perna e coxa).