Para entender os tratamentos para dor crônica, tem de conhecer os diferentes tipos de dor.
A dor crônica e a dor aguda diferem significativamente em muitos aspectos e necessitam de abordagem distinta. A dor aguda geralmente é nociceptiva (ou seja, resulta de lesão ou inflamação de tecido somático ou visceral), ao passo que a dor crônica pode ser nociceptiva ou neuropática (ou seja, resultante da manutenção neuronal da dor, tanto perifericamente como no sistema nervoso central), embora muitas vezes os mecanismos coexistam.
Uma revisão sistemática evidenciou que a abordagem multidisciplinar do paciente com dor crônica (exercício físico individualizado supervisionado, técnicas de relaxamento, terapia de grupo, sessões semanais de educação para o paciente, acupuntura e sessões de fisioterapia – 2 vezes por semana) é melhor que o tratamento médico tradicional, associado com adequação do sono.
Resumindo, os 04 pilares dos tratamentos para dor crônica:
- Terapias manuais e alternativas
- Terapia medicamentosa
- Terapia do sono
- Terapias invasivas
Terapias alternativas
As terapias alternativas são excelentes formas de melhorar a percepção corporal, aliviando a tensão e os estímulos nervosos, o que tem grande influência sobre a dor. Algumas opções são:
- Terapia cognitiva comportamental, uma abordagem da psicoterapia, que pode ser muito útil para auxiliar no tratamento de dores em geral, principalmente por tratar situações de depressão e ansiedade;
- Massagem, uma excelente forma de tratamento, principalmente, para dores musculares associadas a contraturas e tensão;
- Acupuntura e agulhamento, é uma ótima forma comprovada de aliviar dores do tipo miofascial, associadas a contraturas, osteoartrite e outras dores musculares crônicas;
- Atividades físicas, praticadas regularmente, pelo menos 3 vezes na semana, é muito útil para aliviar diversos tipos de dor crônica;
- Técnicas de relaxamentodiminuem as contrações e melhoram a auto-percepção do corpo;
- Fisioterapia, com terapia com calor local ou de reabilitação dos movimentos, útil para a melhora de todos os tipos de dor.
Agende um tratamento nas nossas clínicas, clique aqui >
Tratamento medicamentoso
No que diz respeito ao tratamento medicamentoso, a dor nociceptiva geralmente é tratada com AINES ou analgésicos.
Já a dor neuropática tipicamente é tratada com medicações que influenciam a ação dos neurotransmissores (ex: antidepressivos e anticonvulsivantes).
O tratamento com opióides é reservado para pacientes com dor neuropática refratária.
Antidepressivos tricíclicos
Os antidepressivos tricíclicos (especialmente amitriptilina e nortriptilina) são os que têm melhor eficácia no tratamento das síndromes dolorosas neuropáticas e não-neuropáticas. A eficácia dos tricíclicos parece ser independente do seu efeito antidepressivo e em pacientes com dor (mas sem depressão), também é benéfico. A melhora ocorre em doses menores do que aquelas empregadas no tratamento da depressão. A eficácia dos antidepressivos tricíclicos tem sido documentada em uma variedade de síndromes dolorosas não-neuropáticas, ao contrário de outros antidepressivos ou anticonvulsivantes. No tratamento da fibromialgia os tricíclicos têm a melhor eficácia documentada, mas o efeito é modesto e tende a diminuir ao longo do tempo.
Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRRs)
Já os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRRs) frequentemente não apresentam bons resultados no tratamento da dor crônica .
Drogas anticonvulsivantes
Drogas anticonvulsivantes também são efetivas no tratamento da dor neuropática. A carbamazepina é indicada no tratamento da neuralgia do trigêmeo e também mostrou eficácia modesta no tratamento da neuropatia diabética ou neuralgia pós-herpética. Das drogas de segunda geração, a gabapentina tem a melhor eficácia documentada em pacientes com dor neuropática.
Medicamentos para dor neuropática
Os antidepressivos e os anticonvulsivantes têm eficácia comparável no tratamento da dor neuropática. Visto que a eficácia é similar, a escolha do tratamento inicial deve ser norteada pelo perfil de efeitos colaterais, contra indicações, comorbidades e custo.
Estado mental e sono
Independente da origem da dor, o estado mental da pessoa é um forte influenciador para torná-la persistente e crônica, e isto é comprovado pois pessoas deprimidas e ansiosas tendem a sentir muito mais dor do que as outras.
Pacientes com dor crônica apresentam redução da eficiência do sono, dificuldade para dormir e para o despertar. Além disso podem apresentar perfil depressivo. Dentre as condições que podem influenciar ou ser influenciadas pelo binômio dor e sono destacam-se os fatores psicogêncos e a atividade física. Estudos clínicos e experimentais tanto em humanos como em animais confirmam a associação entre o sono não reparador e manifestações dolorosas. O sono torna-se fragmentado e observa-se aumento no número de despertares.
Além disso, existem evidências de que o sono profundo pode representar um mecanismo compensatório para os processos dolorosos crônicos, de modo que pacientes com maior quantidades de sono profundo provavelmente experimentem os sintomas dolorosos com menor intensidade.
Dicas para dormir melhor
O tratamento para esses distúrbios geralmente envolve medicamentos e, em alguns casos, vale a pena consultar um especialista de sono. Um ponto de partida é melhorar o ambiente do quarto e adotar alguns hábitos:
Durma em um ambiente confortável – isso inclui ter um bom colchão e ajustar a luz, os ruídos e a temperatura para ter uma boa noite de sono.
Estabeleça uma rotina – tenha um horário regular para dormir e para acordar. Prepare-se para o sono, reduzindo gradualmente o seu nível de atividade algumas horas antes de deitar.
Use relaxamento e distração – se você tem dificuldade para pegar no sono, considere ouvir música calma ou distrair-se com atividades tranquilas, como leitura.
Controle o estresse e a preocupação – tente procedimentos de relaxamento antes de ir para a cama. Outra saída pode ser reservar um tempo a cada noite para anotar seus problemas e estratégias para lidar com eles.
Evite sonecas longas durante o dia – cochilar durante o dia pode atrapalhar seu sono de noite.
Evite cafeína, álcool e tabaco de noite – a nicotina do tabaco e produtos com cafeína (como café, chá, refrigerantes e chocolate) são estimulantes e dificultam o sono. Já as bebidas alcoólicas podem proporcionar um sono agitado e irregular.
Verifique se há efeitos colaterais dos medicamentos – medicamentos tomados para outros problemas podem afetar o sono ou criar problemas relacionados.
Tratamentos invasivos
Existem casos de dor crônica que são de difícil tratamento, pois não melhoram com remédios ou tratamentos alternativos. Assim, podem ser feitos alguns procedimentos cirúrgicos, principalmente, por neurocirurgiões, anestesistas ou ortopedistas, que podem corrigir deformidades ósseas ou bloquear nervos que são responsáveis pela dor. Algumas opções incluem:
- Injeções locais: medicamentos injetáveis aplicados diretamente nas terminações nervosas, como infiltrações por anestésicos e corticóides ou bloqueios neuromusculares com o botox, por exemplo, podem ser feitos por médicos habilitados para diminuir a sensação de dor, inflamação e espasmos musculares, com efeitos que duram por semanas a meses;
- Radiofrequência: é um procedimento cirúrgico minimamente invasivo, em que se usa um moderno aparelho gerador de radiofrequência, capaz de causar lesões térmicas ou reações elétricas que acabam com a transmissão dos estímulos dolorosos pelos nervos, causando melhora ou resolução de dores na coluna por vários meses;
- Implante de eletrodo na medula espinhal: chamado de neuroestimulador, este pequeno eletrodo pode ser implantado atrás da coluna, capaz de fazer estimulações que bloqueiam a recepção do estímulo da dor. A estimulação da medula espinhal é útil para o tratamento de dor crônica dos membros ou do tronco;
- Cirurgias: procedimentos cirúrgicos para correção das alterações estruturais e anatômicas da coluna vertebral, como retirada de hérnias discais, correção do canal estreito por onde passar nervos ou correção de alterações nas vértebras podem diminuir a sobrecarga nos nervos e aliviar a dor.
Referências:
- Scascighini L, Toma V, Dober-Spielmann S, Sprott H. Multidisciplinary treatment for chronic pain: a systematic review of interventions and outcomes. Rheumatology (Oxford). 2008 May;47(5):670-8.
- Maizels M, McCarberg B. Antidepressants and antiepileptic drugs for chronic non-cancer pain. Am Fam Physician. 2005 Feb 1;71(3):483-90.
- Sindrup SH, Jensen TS. Pharmacologic treatment of pain in polyneuropathy. Neurology. 2000 Oct 10;55(7):915-20.
- A relação entre dor crônica e alterações da qualidade do sono.